30 agosto 2020

Dois Baptismos e Um Casamento


Reprodução da abertura do assento de casamento de José Teixeira de Souza e Maria Sabina Fernandes, pais de Jorge Teixeira, em 21 de Março de 1891, na Paróquia de Santa Cruz, no Barreiro

 

Aos dezasseis dias do mês de Janeiro, início do ano de 1870, era solenemente baptizado na S. Sé, de Viseu, um indivíduo do sexo masculino, a quem foi dado o nome de José. Tinha nascido no dia 2 do mesmo mês e ano. 

Aos trinta dias do mês de Julho, na Igreja Paroquial de Santo Estêvão de Pussos, Alvaiázere, foi baptizada solenemente, uma criança do sexo feminino a quem foi dado o nome de Maria Sabina. Nasceu pouco mais de 6 meses depois de José, no dia 17 de Julho de 1870.

Vinte e um anos depois destas ocorrências, em 21 de Março de 1891, compareceram perante o P.e Francisco António Quintão, Prior da Igreja Paroquial de Santa Cruz, no Barreiro, os nubentes José Teixeira de Souza e Maria Sabina Fernandes, «os quaes nubentes se receberam por marido e mulher, e os uni em matrimonio, procedendo em todo este acto conforme o rito da Santa Madre Egeja Catholica apostolica Romana».

Desta união viriam a nascer, nos anos subsequentes, seis filhos: quatro varões e duas raparigas, sendo Jorge Fernandes Teixeira o quarto filho do casal.

29 julho 2020

O meu bisavô Jorge Teixeira

 

Jorge Teixeira com os seus netos Nuno e André (encoberto), no final dos anos 60 do séc. XX

 

Não sei bem que altura do ano era. Só sei que estava calor e vinha da praia de cascais.

Passei pela casa da minha avó, em S. João do Estoril, para lhe fazer uma visita. Já tinha tido vários olhares sobre a casa da minha avó Helena…. Ora às escuras por ela ainda estar a dormir, ou a abarrotar de gente, como nos natais, em que todos os tios e primos se juntam, para comer, cantar e discutir. Desta vez a casa estava com bastante luz. O corredor com tons de terra, a cómoda de madeira escura…. É, a meu ver, a típica casa de avós (imaginando que cada pessoa tem na sua cabeça uma imagem diferente de como seria a casa ideal de avós). Nessa bela tarde, logo após dar o tradicional beijinho à minha avó, vi que a casa estava desarrumada. Tinha papeis pelo chão, gavetas cheias de tralha tiradas da cómoda no corredor. Demorei um pouco, mas perguntei o que se passava – “são coisas do teu bisavô”. Fiquei ainda mais curioso, pois nunca tinha ouvido falar de um bisavô que pudesse ser tão grande coleccionador de papelada e tralha. E a minha avó, lá me contou a história do meu Biso Teixeira. Do ferroviário do Barreiro, que escrevia e tocava nos tempos livres. 

TmB

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12 julho 2020

A Batalha: um diário e um projecto cultural no movimento sindical da República (1919-1927)



 

A Batalha constituiu até hoje uma referência única no panorama do jornalismo operário em Portugal, não apenas por se tratar de um jornal diário de grande tiragem (à escala de um país pobre e analfabeto) destinado prioritariamente às classes trabalhadores, como também (ou principalmente) pelo seu modelo editorial. O jornal surge por iniciativa de sindicalistas e anarquistas onde se destacaram o papel dos gráficos, os tipógrafos e jornalistas como Alexandre Vieira, Pinto Quartim, Joaquim Cardoso, Perfeito de Carvalho, e outros, que quiseram lançar um periódico que fosse simultaneamente noticioso e formativo, por um lado, e porta-voz da organização operária, por outro.  A Batalha vinha assim substituir o jornal da União Operária Nacional (U.O.N.) mas não perdia as características de um projecto jornalístico. A atestá-lo estava a publicidade que ainda surge nos primeiros números e o facto de ter sido criado com o concurso de subscrição pública (e não pela quotização dos sindicatos que sofriam ainda os efeitos da repressão sidonista e as consequências económicas da guerra). 


PEG

 

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28 junho 2020

A MUDANÇA DA PAISAGEM NO BARREIRO DE JORGE TEIXEIRA


Bilhete postal com vista parcial da desaparecida praia Norte do Barreiro (1910)

Fonte: CMB – Espaço Memória


O progresso tinha o seu preço. O lago e as barraquinhas brancas, os meus castelos de areia, até as minhas pescarias haviam desaparecido. (…) Só a recordação da fertilidade pesqueira desse lodo resistia à reconciliação. Olhei o Tejo com saudade “.

Jorge Teixeira, O Barreiro que eu vi. Edição Câmara Municipal do Barreiro, 1993, pág. 55

 

A viagem no tempo que Jorge Teixeira faz às suas memórias, alude muitas vezes à saudade e ao choque pela mudança que constata. As quintas, as ruas, o rio, a praia mudaram muito no Barreiro entre as décadas de 1910 e 1920, período que o autor recorda, e o final da década de 1960, quando de táxi atravessa e visita o Barreiro. 

            Neste trecho, junto da muralha marginal (inaugurada em 1933), que aterrou a praia retratada no postal que apresentamos, Jorge Teixeira lembra-nos que o “progresso” do Barreiro tivera um custo para a sua paisagem. O Barreiro que ele vira, mudara.

FdM

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A VEREAÇÃO SOCIALISTA DA CMB (1920-22)



Bilhete postal ilustrado – Sociedade Recreativa “Franceses”. Ed. Laurinda Grave dos Santos.

 

Numa reviravolta surgem-me a fachada imponente dos Franceses, diante do jardim que fora uma sucursal do Odeon com o seu coreto para concertos e árvores meditativas

 Jorge Teixeira, O Barreiro que eu vi, Ed, Câmara Municipal do Barreiro, 1993, pág. 44


A propósito da memória de Jorge Teixeira sobre o Jardim Público do Barreiro e o seu coreto, não podemos deixar de lembrar o centenário da eleição de uma lista socialista para as eleições municipais em 1920, já que, o lembrado coreto foi uma das realizações dessa vereação.

A imagem que apresentamos faz parte de uma coleção de postais bilingues (português e esperanto), editada no Barreiro no final da década de 1930. Transporta-nos até ao imaginário de Jorge Teixeira da memória do local, como também a sua faceta de esperantista.

FdM

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AS FILARMÓNICAS


“Volta e meia, sob qualquer pretexto, as vistosas bandas marchavam e tocavam “passo-double” alegres, marchas, hinos vibrantes, rua fora, com chusmas de cabeças às janelas, à frente de uma onda frenética de moços a entoá-los e a apanhar canas de foguete, atrás de um rio de gente ébria de felicidade, sócios da mesma agremiação, ferrenhos admiradores, amigos e camaradas dos músicos”

 Jorge Teixeira, O Barreiro que eu vi, Ed. Câmara Municipal do Barreiro, 1993, pág.63


Desfile de homenagem aos barreirenses participantes na Primeira Guerra Mundial, realizada em 1930, na rua Aguiar, em que participaram quatro bandas filarmónicas do concelho: Sociedade Filarmónica Agrícola Lavradiense, Banda do Grupo Desportivo da Companhia União Fabril, Sociedade de Instrução e Recreio Barreirense “os penicheiros” e Sociedade Democrática União Barreirense “os franceses” (fonte: CMB - Espaço Memória. Espólio de Augusto Pereira Valegas).

Na fotografia, surgem à frente, de negro, os alunos do Asilo de D. Pedro V, depois os membros da Liga dos Combatentes com a sua bandeira, seguidos de membros da edilidade. Atrás a rodear as filarmónicas, muito povo, como recordava Jorge Teixeira.

Seguem pela rua Joaquim António de Aguiar, aquela que era a principal artéria do Barreiro na época, que no século XIX tinha a designação de rua de Palhais.

Hoje, esta rua perdeu toda esta vida e alegria que observamos na imagem. Entre muitas ruínas, também as filarmónicas são uma recordação. Das bandas que estiveram presentes neste desfile, nenhuma subsiste. Hoje, o Barreiro tem apenas uma filarmónica, a Banda Municipal do Barreiro, fundada em 1972 e que tem na sua origem elementos da Banda da CUF.

Mas, a história não se perdeu. As sociedades filarmónicas centenárias barreirenses, apesar de extintas, têm ainda os seus arquivos musicais intactos nas sedes das respetivas coletividades (SIRB e SDUB), no Espaço Memória do Barreiro (SFAL) e na Banda Municipal do Barreiro (Banda do GD da CUF). Grande parte dos velhos instrumentos também estão guardados nas suas sedes, assim como, a documentação relativa à sua organização e gestão. Cabe às atuais gerações dirigentes o papel de conservarem este legado com o mesmo brio com que outrora funcionaram, como Jorge Teixeira nos lembra, sacrificando as horas de descanso e de lazer com a família, para dedicar o seu tempo à sua coletividade.

 

FdM

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ADIVINHE!…



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